Mulheres rurais do PAD-DF participantes da atividade relatam bem-estar
Cleice Soares, moradora do núcleo rural Café Sem Troco (região administrativa do Paranoá), frequenta uma roda de terapia há pouco mais de um ano. A atividade a tem ajudado a ficar mais animada e encarar o trabalho com mais energia. A ação, feita com apoio da Emater-DF, já acontece em algumas comunidades agrícolas e tem tido reflexos positivos na saúde mental de agricultoras, trabalhadoras rurais e moradoras dessas áreas.
Segundo a assistente social Maria Bezerra, da Gerência de Desenvolvimento Sócio-Familiar (Gedes) da Emater-DF, os extensionistas da empresa já estavam atentos a algumas demandas de saúde mental das famílias atendidas. “A pandemia, no entanto, pressionou esse movimento, quando todos nos sentimos oprimidos e atacados pela solidão, isolamento e as incertezas que o vírus trouxe”, relata Maria.
Em 2021, uma parceria entre a Diretoria de Saúde Norte da Secretaria de Saúde e a Emater-DF levou oficinas de automassagem a moradoras de áreas rurais de Sobradinho e Planaltina. Diante dos bons resultados, a assistente social da Emater afirma ter surgido a ideia ampliar a experiência. “Afinal, a extensão rural deve pensar a vida do trabalhador como um todo. Se ele não estiver se sentindo bem em todos os aspectos, não só a produção será prejudicada, como todas as suas relações interpessoais”, entende Maria Bezerra.
No final de 2021, durante o 7º Encontro de Mulheres Rurais da Emater-DF, foi realizada uma roda de terapia comunitária — uma modalidade de trabalho terapêutico baseada na conversa horizontal —, quando surgiu a ideia de levar a prática às comunidades rurais. Hoje, as terapias acontecem em núcleos como a Quebrada dos Neres e o Café Sem Troco (RA Paranoá), Taquara (RA Planaltina), Vargem Bonita (RA Park Way), Catingueiro (RA Fercal) e Aguilhada (RA São Sebastião).
A amazonense Cleice Soares vive no Café Sem Troco apenas com o marido e dois filhos. A família ficou toda no Norte. “No início, eu me sentia muito sozinha, não tinha com quem dividir meus problemas e aflições”, conta Cleice, que trabalha com artesanato rural. Quando soube da roda de terapia, por meio do escritório da Emater-DF no PAD-DF, resolveu participar. “A atividade nos ajuda a entender melhor a vida e nos ensina a não julgar os outros, afinal todos temos problemas”, completa a artesã.
A técnica em agroindústria Yokohama Cabral, que atende no escritório da Emater-DF no PAD-DF, diz que já vinha reparando que várias de suas trabalhadoras e produtoras atendidas tinham problemas relacionados com depressão e ansiedade. “Era visível a baixa produtividade, a baixa auto-estima das mulheres, o relacionamento deteriorado com familiares e colegas. Tudo isso refletia em prejuízo ao trabalho”, conta a extensionista.
Em 2019, Yoko iniciou um trabalho de terapia comunitária que durou um ano. “Logo depois, a Maria (Bezerra, assistente social da Emater-DF) trouxe a ideia das rodas de terapia, que enxergamos como uma oportunidade de prosseguir e fortalecer o trabalho”, relata. “As mulheres conseguiram se enxergar, entender a importância de seus sentimentos e o trabalho passou a fluir melhor. Algumas voltaram, inclusive, a estudar. Temos o caso de uma mulher de 56 anos que passou no Enem [Exame Nacional do Ensino Médio] e hoje está cursando faculdade”, comemora Yoko, acrescentando que a meta, agora, é trabalhar a mesma abordagem com os homens das comunidades rurais.
“Mais leve”
Na última semana (16 de março), cerca de 15 mulheres se reuniram em uma casa no Café Sem Troco para mais uma roda de terapia comunitária. A atividade foi conduzida pelas facilitadoras Andréa Nardelli, Denise Cavalcanti e Fernanda Martins. “Trabalhamos com a empatia, a escuta horizontal e abordagens lúdicas”, explica Fernanda. Após quase duas horas de muita conversa, as participantes tinham o semblante mais alegre e animado. “Sempre que termina, me sinto mais leve”, conclui Cleice Soares.
Terapia Comunitária Integrativa
Criada pelo psiquiatra Adalberto Barreto, da Universidade Federal do Ceará (UFC), na década de 1980, a TCI envolve o cuidado com a saúde mental em espaços públicos e propõe a troca de experiências entre os participantes. Os facilitadores propõem a integração de saberes por meio de memórias afetivas, cantigas e outras atividades lúdicas. A TCI é considerada uma abordagem psicossocial pelo Ministério da Saúde e adotada em várias unidades de saúde distritais, estaduais e municipais como forma de construção de redes sociais solidárias e fortalecimento da saúde mental.
Para se tornar um facilitador, é necessário participar de um curso com 300 horas de duração, oferecido pela Associação Brasileira de Terapia Comunitária Integrativa (Abratecom). A entidade estima que mais de 30 mil pessoas já se formaram como terapeutas comunitários no país.
A Emater-DF
Empresa pública que atua na promoção do desenvolvimento rural sustentável e da segurança alimentar, prestando assistência técnica e extensão rural a mais de 18 mil produtores do DF. Por ano, realiza cerca de 150 mil atendimentos, por meio de ações como oficinas, cursos, visitas técnicas, dias de campo e reuniões técnicas.
Emater-DF
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