Seja na agricultura, na pecuária, na agroindústria ou na administração, existem mulheres protagonizando histórias de sucesso e superando obstáculos no meio rural. Diante do cenário de lutas dessas mulheres, no último ano, a Câmara Legislativa do DF instituiu a Semana Distrital da Mulher Trabalhadora Rural, realizada anualmente no mês de agosto, com objetivo de valorizar essas guerreiras do meio rural.
No Distrito Federal, o campo é formado por mulheres com nome, sobrenome, endereço e muitas histórias de superação, empreendedorismo, empoderamento e liderança no meio rural. Mariza Matsui, no PAD-DF, Eliege Cola Altoé, no Núcleo Rural Tabatinga, e Luzia Rodrigues de Souza, no Assentamento Contagem, são algumas das mulheres, acompanhadas pela Emater-DF, que representam a agropecuária brasileira na capital.
Nascida e criada no campo, Mariza Matsui, 61 anos, produtora na região do PAD-DF, garante ser realizada na profissão herdada dos pais. Trigo, milho, alho, cenoura, tomate, ervilha e sorgo são alguns dos cultivos feitos na propriedade de Mariza, produtora que também é pecuarista. Gado leiteiro, suínos, frango de corte e ovos também fazem parte da rotina de cuidados em sua fazenda.
Mãe de três filhos, avó de cinco netos e viúva há três anos, a produtora é a liderança na propriedade, cuida do processo de plantio, colheita, contratação de funcionários em épocas de safra e compras diversas. “Hoje em dia, meus filhos já assumiram uma boa parte, mas as decisões principais ainda estão em minhas mãos”, conta Mariza, orgulhosa da profissão.
“Eu e meu marido não tínhamos nada. A gente veio para abrir cerrado em Minas Gerais, depois vendemos a fazenda de lá e compramos outra aqui. Hoje em dia, a gente tem essa propriedade. Eu sou uma simples produtora como muitas e tenho muito orgulho de ser produtora rural”, diz ela, que também lembra que as conquistas foram possíveis graças às lutas e estudos.
“Vaqueiro competente, administração rural. Fiz muitos cursos. As coisas não caem de graça no colo da gente. É preciso se preparar, estudar. Antigamente o povo falava que quem não estudava ia para a roça, agora você tem é que estudar para ir para a roça”, ressalta.
Apesar do último Censo Agro, realizado em 2017 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrar uma estimativa baixa de mulheres no campo, elas são muitas e fazem a diferença. Ao todo, o Censo aponta que existem pouco mais de 5 milhões de produtores em todo o país. Desses, 4,1 milhões são homens e 950 mil, mulheres.
Luzia, que chegou em Brasília em 1975, investe no cultivo de mandioca e na produção de farinha – Foto: Reprodução
Luzia Rodrigues, do Assentamento Contagem, veio do Piauí para Brasília em 1975. Casou, trabalhou em olaria. A vida em casa era difícil. Em 1994 veio a tão sonhada terra, plantava para subsistência da família e vendia o excedente. Separou do marido, com os oito filhos continuou sua luta, recebeu a bolsa escola e este ganho ajudou na alimentação dos filhos.
Decidiu que seria dona de seu destino e investiu no plantio de mandioca, transformando a raiz em farinha e polvilho e seus produtos chegaram ao comércio. Hoje, após tantas batalhas sua vida mudou, comprou novas terras, um caminhão e um carro próprio. Além disso tudo, conseguiu construir uma câmara fria, onde armazena com mais segurança os seus produtos. “Eu tiro o pão da terra que conquistei”, diz orgulhosa.
Elieje Cola Altoé, do Núcleo Rural Tabatinga, veio do Espírito Santo para Brasília com o marido há pouco mais de 30 anos. Em sua propriedade, começou cultivando hortaliças, milho e arroz. No início, o cultivo era intenso e sem dia de descanso. O trabalho era intenso, dependia de muita mão de obra e ainda tinha a dificuldade da comercialização. Quando surgiu a oportunidade de partir para uma nova produção, não pensou muito.
Começou o cultivo de palmito pupunha e aos poucos foi montando uma agroindústria, que hoje é a Agroindústria Altoé. Com o apoio e o conhecimento dos técnicos da Emater-DF, aumentou a plantação e incentivou outros produtores no cultivo da cultura, para que fornecessem matéria prima para ser processada na agroindústria
Hoje, seu maior orgulho é ser a responsável técnica de sua agroindústria e também de ver que seu produto tem grande aceitação pelos consumidores. O fornecimento é realizado in natura para alguns restaurantes e em conserva. “Com a nova atividade, eu e meu marido temos maior qualidade de vida, não esquecendo que temos todo o empenho desde o cultivo até o produto final, que é a conserva“, ressalta Elije.
Organização feminina
Por todos os cantos, as histórias e exemplos de mulheres do meio rural se multiplicam. Em Sobradinho, no Assentamento Contagem, um grupo de mulheres se uniu e formou a Associação Flores do Contagem. Da associação, nasceu a Agroindústria Flores do Contagem, que hoje possui uma panificadora equipada e formalizada.
A produção, realizada de forma coletiva, é comercializada por meio de contratos tanto na iniciativa privada quanto por compras institucionais para programas como o de Aquisição de Alimentos do Distrito Federal (PAA-DF) e o de Aquisição da Produção da Agricultura (Papa-DF). O grupo atua na produção de pães, bolos e biscoitos. Junto às mulheres, a Emater-DF tem feito trabalho de qualificação, com cursos voltados para a área e orientações técnicas. O Flores do Contagem foi a primeira agroindústria rural em grupo formalizada no DF.
No Assentamento Betinho, em Brazlândia, o protagonismo também é das mulheres. Em 1996, quando as primeiras moradoras eram acampadas na beira da estrada DF-220, as mulheres criaram um grupo, e passaram a cultivar hortaliças e produzir pães, bolos, salgados, doces e geleias. O grupo está aguardando a construção de um espaço para a fabricação dos panificados na área comunitária da associação. Enquanto isso, elas estão comercializando seus produtos individualmente.
A Emater-DF
Empresa pública que atua na promoção do desenvolvimento rural sustentável e da segurança alimentar, prestando assistência técnica e extensão rural a mais de 18 mil produtores do DF e Entorno. Por ano, realiza cerca de 150 mil atendimentos, por meio de ações como oficinas, cursos, visitas técnicas, dias de campo e reuniões técnicas.
Emater-DF
Parque Estação Biológica, Ed. Sede Emater-DF CEP: 70.770.915 Brasília - DF Telefone: (61) 3311-9330 e (61) 3311-9456 (Whatsapp) E-mail: emater@emater.df.gov.br