Produtora rural e artesã no Núcleo Rural do Caub I, Gizelma Fernandes, 46 anos, decidiu mudar de vida partindo da crença de que é necessário buscar um sentido mais profundo no que se faz. Foi então que, há 16 anos, deixou o emprego em um escritório para apostar na produção de papel a partir do tronco de bananeira. Hoje, ela produz aproximadamente 500 folhas de 0,70 x 1 metro ao mês, vendidas na internet e em uma loja própria no shopping popular.
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A matéria-prima é extraída de um sistema agroflorestal de aproximadamente um hectare cultivado na chácara onde vive, no CA Catetinho – Caub I. “Chega um dia na vida que a gente se pergunta se aquilo que está fazendo é realmente o que a gente tem que fazer na vida. Porque acredito que todas as pessoas têm uma semente pra realizar. Eu achava que aquele trabalho no escritório não era a minha. Como a flor se torna flor, qual era a semente que eu tinha para o mundo?”, lembra.
A ideia de que a semente estava no papel de tronco de bananeira surgiu literalmente de um sonho. “Eu tive um sonho, no qual ensinava crianças a fazer papel reciclado. Mas não sabia nada sobre isso e comecei a pesquisar. Isso foi em 2004. Consegui um curso no Museu Vivo da Memória Candanga, naquele mesmo ano. E, a partir daí, trabalho com isso”, conta. Foi em 2005 que Gizelma montou a empresa Flor de Bananeira.
Ouça a história contada no quadro de podcast “Histórias e Saberes do Campo”:
O papel da Emater
A artesã montou a estrutura junto com o pai e com apoio da Secretaria de Meio Ambiente do Distrito Federal, Instituto Brasília Ambiental (Ibram), Universidade Internacional da Paz (Unipaz-DF) e a Emater-DF. “A Emater-DF é uma das principais apoiadoras do trabalho que faço, em todas as etapas de cada um dos meus projetos”, destaca.
A gerente do escritório da Emater-DF em Vargem Bonita, que atende a região do Caub, Claudia Coelho, explica que os técnicos da empresa conheceram o trabalho de Gizelma quando ela já produzia o papel, e a incentivaram a ampliar as possibilidades de negócios.
“Quando conhecemos a Gizelma, ela já fazia o papel com o tronco da bananeira. A nossa técnica Janaína Dias fez um curso de tingimento natural para o papel reciclado. Ela ensinou como tirar o tingimento das plantas. E disso surgiu a ideia de fazer um jardim tintorial, que seria utilizado na propriedade da Gizelma para os papéis e também em outros projetos que estão em andamento. Tudo para agregar valor aos produtos”, conta.
No sistema agroflorestal, o papel dos técnicos de Vargem Bonita foi redesenhar o projeto para melhorar seu aproveitamento e ir em busca de parcerias que tornassem possível sua execução: “A gente conseguiu um kit de irrigação em parceria com a Seagri (Secretaria de Agricultura do DF). Foram feitos pedidos à Novacap para resolver um problema de poda, para melhorar a adubação e a qualidade do solo. Então, a gente auxiliou com assistência técnica na agrofloresta.”
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Produção agroecológica
Para produzir o papel, a artesã faz o manejo da bananeira, respeitando seu ciclo natural: ela espera a planta dar o fruto e só depois corta o tronco, processo necessário para que o pé continue produzindo. O que não usa como papel, destina para adubo. Todo o projeto e realizado pela produção agroecológica.
Ela cuida de tudo sem usar nenhum tipo de agrotóxico, mesmo tratamento que recebem as outras plantas da sua propriedade. São frutas, hortaliças e ervas medicinais produzidas em sistema agroecológico e depois vendidas na região. “Esses dias mesmo vendi seis caixas de mandioca”, recorda, orgulhosa.
Projeto Revivare
Do sonho de ensinar crianças a fazer papel reciclado, Gizelma criou o Projeto Revivare, que começou a colocar em prática em 2015. O nome do projeto acabou dando nome à chácara onde vive. Ela ensina gratuitamente crianças de escolas da região sobre plantar, colher e usar com sabedoria os recursos naturais.
“Primeiro, eu levo os estudantes no sistema agroflorestal, explico como funciona e ensino a plantar e a cuidar. Depois, os incentivo a recolher do chão flores e folhas para a produção de seus papéis. Mas sempre do chão, nunca do que ainda está no pé”, ensina a artesã, que transmite às futuras gerações as lições que aprendeu com a natureza.
Ouça abaixo em nosso Boletim de Rádio:
A Emater-DF
Empresa pública que atua na promoção do desenvolvimento rural sustentável e da segurança alimentar, prestando assistência técnica e extensão rural a mais de 18 mil produtores do DF. Por ano, realiza cerca de 150 mil atendimentos, por meio de ações como oficinas, cursos, visitas técnicas, dias de campo e reuniões técnicas.
Emater-DF
Parque Estação Biológica, Ed. Sede EMATER-DF CEP: 70.770.915 Brasília - DF Telefone: 3311-9330 E-mail: emater@emater.df.gov.br