Mulheres durante o 1º encontro de Fiandeiras, promovido pelo Projeto Revivare
Mulheres do núcleo rural Caub I, no Riacho Fundo II, formaram um grupo para resgatar a tradição do fiar, passada a elas por mães e avós quando ainda eram crianças. O primeiro encontro ocorreu no último sábado (1º) e reuniu dez fiandeiras. O evento teve ainda uma cavalgada, roda de viola e apresentação de catira, dança folclórica típica do Centro-Oeste.
A organização do grupo para a retomada da tradição da arte de fiar foi uma iniciativa do Projeto Revivare, que atua na área de educação socioambiental, e teve o apoio de diversas instituições privadas e públicas, entre elas a Emater-DF. A ideia é que um novo encontro seja realizado ainda no primeiro semestre deste ano, com rodas de conversa em torno das máquinas de fiar.
A fiandeira Erondina Maria de Paiva, que aprendeu a fiar ainda criança, em Minas Gerais
Para a coordenadora do Projeto Revivare, Gizelma Fernandes, a formação do grupo garante a transmissão de um saber tradicional. Segundo ela, as fiandeiras consideravam sem importância o conhecimento que têm – principalmente para os mais jovens, já nascidos em um tempo em que a indústria de fiação ganhou escala industrial e popularizou o uso de fios sintéticos.
A presidente da Emater-DF, Denise Fonseca, ressaltou a importância de se manter viva a cultura tradicional e afirmou que, além da questão sociocultural, o uso de produtos naturais na confecção de tecidos ajudaria a reduzir a poluição ambiental causada por plásticos e substâncias derivadas usadas na indústria da fiação nos dias de hoje.
Presidente da Emater-DF, Denise Fonseca (de chapéu, em pé) canta com fiandeiras
“Cultura e sustentabilidade andam juntas com essas mulheres maravilhosas. A Emater se orgulha muito de contribuir com esse projeto e parabeniza o Revivare e todos os demais parceiros por esta iniciativa”, afirmou Denise.
A extensionista Cláudia Leite, do escritório da Emater-DF na Vargem Bonita, lembrou que a empresa está em contato com a Embrapa para o uso de sementes de algodão colorido para ser usado pelas fiandeiras. A ideia é usar o espaço, a chácara 58 do Caub I, como uma espécie de vitrine para o trabalho das fiandeiras com a utilização dessa variedade da planta.
Roda de fiar é acionada com o pé das fiandeiras durante a produção de tecido
Rodas de fiar
A fiandeira Maria Fonseca de Assis, natural de Formosa (GO) e que mora há 32 anos no Caub I, lembrou o tempo de menina, em que fiava. Ela aprendeu a arte com a mãe, que, por sua vez, havia aprendido com a avó. “Naquele tempo, a gente fazia o pano para vestir, para embrulhar, para fazer saco para carregar coisas da roça. Tudo era na base do pano que a gente fazia”, disse.
Para produzir os fios e transformá-los em tecido, as mulheres e meninas descaroçavam o algodão usando varas de madeira, desfiavam os chumaços e iam manuseando o material com as mãos e com arcos até ganharem a forma de fios. Depois, esses fios eram trabalhados nas rodas de fiar, feitas de madeira e acionadas com os pés, para gerar o tecido que mais tarde se transformaria em roupas ou sacos.
“Minha experiência começou comigo bem pequena. Minha mãe trabalhava disso a vida toda. Comecei bem pequena pegando algodão na roça com ela, tirando cisquinho do algodão, trazendo pra casa, ‘escaroçando’ na mão aí ia pra calda ou pro arco e depois ia fiar na roda. Se fosse pra tecer pano branco, não precisava tingir”, explicou.
A fiandeira Erondina Maria de Paiva, natural de Coramandeu, em Minas Gerais, lembra da dificuldade quando criança para ter roupas. “A gente tinha que saber plantar o algodão, colher, ir para o tear fazer a roupa, porque ninguém tinha roupa fina para vestir. Quando tinha uma roupa mais ou menos era para ir para festa”, disse. Ela disse que o algodão que usou para fiar no encontro foi plantado por ela.
Cavalgada que aconteceu durante o encontro das fiandeiras
“A gente aprendeu as tradições antigas desde criança”, disse a fiandeira Dona Domingas, de 73 anos, que trabalha com algodão desde pelo menos até os 10 anos. “Tinha um dia em que minha falava assim: ‘hoje a gente vai fiar porque a gente está sem linha’. Então gente juntava com ela e passava o dia fiando. Eu e minhas irmãs. Somos quatro irmãs.”
O 1º Encontro de Fiandeiras foi organizado pelo Projeto Revivare e teve o apoio da Emater-DF e a participação das administrações do Riacho Fundo II e Candangolândia, Associação dos Produtores do Caub I, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, da Unipaz, do Museu Vivo da Memória Candanga e da Agrourbano Ipê. Depois dos festejos, os presentes participaram de um mutirão de limpeza de uma área para o plantio de algodão.
A Emater-DF
Empresa pública que atua na promoção do desenvolvimento rural sustentável e da segurança alimentar, prestando assistência técnica e extensão rural a mais de 18 mil produtores do DF e Entorno. Por ano, realiza cerca de 150 mil atendimentos, por meio de ações como oficinas, cursos, visitas técnicas, dias de campo e reuniões técnicas.
Emater-DF
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