Embrapa Cerrados e a Emater-DF são parceiras no processo de transferência de tecnologia Foto: Embrapa
A cadeia produtiva tanto da bovinocultura de leite quanto de corte foi o foco de uma reunião técnica que contou com a participação de mais de 100 especialistas e gestores da Embrapa Cerrados e da Emater-DF. O encontro foi realizado de forma on-line no último dia 12. No eixo das discussões, o trabalho desenvolvido em dois centros ligados à Embrapa Cerrados: o Centro de Tecnologia para Raças Zebuínas Leiteiras (CTZL), localizado no Gama (DF), e o Centro de Desempenho Animal (CDA), em Santo Antônio de Goiás (GO).
A Embrapa Cerrados e a Emater-DF são parceiras históricas no processo de transferência de tecnologia e a reunião técnica buscou fortalecer ainda mais essa relação entre pesquisa e extensão rural. “A Emater-DF é um polo de irradiação de tecnologias. Essa parceria entre pesquisa, extensão rural e produtor rural é um exemplo, tanto em termos de gestão do trabalho, quanto de tecnologias que são validadas e adotadas pelo setor produtivo”, afirmou Fábio Faleiro, chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Cerrados.
“Estamos começando uma nova gestão à frente da Embrapa Cerrados em que o foco é a inovação. Acredito que este é um momento muito especial para que a gente faça entregas no âmbito da pecuária leiteira e de corte. Nossa força de trabalho está à disposição para que, de uma forma sistêmica, cada pesquisador contribua para esse sistema produtivo”, enfatizou Sebastião Pedro da Silva Neto, chefe-geral da Embrapa Cerrados.
De acordo com Loislene Rocha, diretora executiva da Emater-DF, o próximo acordo de cooperação entre as duas instituições está sendo atualizado e trará um plano de trabalho voltado à questão da inovação tecnológica, principalmente na área animal. “Temos trabalhado muito na área vegetal e vejo como uma oportunidade agora atuar junto à cadeia produtiva da área animal, por meio do uso de tecnologias, com uma preocupação não só voltada ao aumento da eficiência de produção, mas também à preservação do meio ambiente. Nosso cliente tem nos cobrado isso e queremos construir juntos esse novo momento”, pontuou.
Camila Ribeiral, médica veterinária e extensionista da Emater-DF, responsável pelo programa de bovinocultura, apresentou na reunião técnica informações sobre a situação do setor produtivo de bovinocultura do DF. A região possui hoje um rebanho de mais de 78 mil cabeças de gado, sendo 47 mil de bovinos de corte e 31 mil de leite. As duas atividades envolvem cerca de 2.300 produtores rurais.
Desempenho animal
O pesquisador Claudio Magnabosco falou sobre o trabalho desenvolvido no Centro de Desempenho Animal (CDA). Ele é o supervisor do local e também coordena o programa de melhoramento genético BRGN (Brasil Genética Nelore), referência atualmente em termos de uso de ferramentas e estratégias de tecnologia e que já está promovendo impactos significativos no campo.
Magnabosco explicou que o que se busca com o trabalho desenvolvido junto ao Nelore BRGN são os acasalamentos genéticos otimizados, ou seja, melhorar as características de cada animal corrigindo seus defeitos e maximizando suas qualidades. “Precisamos de um animal que seja uma máquina de converter capim em carne, mas ele precisa também consumir menos e ganhar mais. Características igualmente importantes são o desempenho à desmama, crescimento, qualidade de carne e carcaça, fertilidade e precocidade sexual”, explicou.
Esse trabalho de seleção genética foi iniciado no ano 2000 com o objetivo de ofertar ao mercado animais mochos da raça Nelore provados com potencial genético e rusticidade para condições de criação no bioma Cerrado garantindo, assim, eficiência de produção e aumento de produtividade e rentabilidade. Nas pesquisas são utilizados touros jovens de destaque e há a cooperação técnica com rebanhos selecionadores e centrais de inseminação. Ao longo desses anos o programa já produziu 750 touros BRGN, com geração estimada de 23 mil filhos e comercialização em leilões de mais de 10 mil doses do material genético de touros destaque no bioma Cerrado. Hoje existem cerca de 100 matrizes jovens e fenotipadas.
Os trabalhos são feitos em parceria entre Embrapa Cerrados, Embrapa Arroz e Feijão e Associação Goiana dos Criadores de Zebu (AGCZ) e vem sendo aprimorado desde 1998. No CDA também é conduzido anualmente o teste para eficiência alimentar. Outro trabalho de destaque conduzido no Centro de Desempenho Animal é a caracterização e seleção genética para maciez da carne em bovinos Nelore mocho. De acordo com o especialista, já foi identificada ausência de correlação genética entre maciez da carne e carcaça e crescimento. “Gado gordo tem suculência e sabor, não maciez”, afirmou Magnabosco.
Raças Zebuínas Leiteiras
O pesquisador da Embrapa Cerrados Carlos Frederico Martins fez um resgate histórico do trabalho desenvolvido ao longo dos anos no Centro de Tecnologia para Raças Zebuínas Leiteiras (CTZL), inaugurado em 2007. Desde o início, o foco do centro sempre foi a produção de genética zebuína leiteira por meio de biotécnicas reprodutivas e de treinamentos, mas ao longo dos anos foi ganhando outros componentes ligados aos sistemas integrados. “Hoje o CTZL tem a concepção de produção de leite com gado adaptado ao ambiente tropical em pastagens renovadas com Integração Lavoura- Pecuária -Floresta (ILPF)”, explicou o pesquisador, que foi supervisor do CTZL entre 2016 a 2020.
Atualmente, o CTZL conta com um rebanho de 450 cabeças de animais da raça Gir, Sindi e Guzerá Leiteiro e provenientes de cruzamentos. No centro são conduzidos estudos que abarcam o tripé da produção animal: alimentação e nutrição, sanidade e genética e reprodução. O pesquisador explicou que o carro-chefe das biotécnicas de reprodução utilizadas no desenvolvimento do zebu leiteiro é a inseminação artificial, pela facilidade da técnica, mas a fecundação in vitro é usada de forma estratégica para produzir animais superiores.
Segundo ele, além da alta produção de leite a baixo custo, também são buscadas características relacionadas à composição do leite – especialmente a Betacaseína A2 para beneficiar aqueles indivíduos com alergia à proteína do leite -, persistência da lactação, composto de úbere e reprodução. “O animal precisa parir uma vez ao ano e gerar um produto de valor agregado e que não gere despesa ao produtor”, enfatiza o pesquisador.
Muitos cursos e treinamentos são realizados no CTZL com o objetivo de agregar valor à produção de leite, a maior parte deles em parceira com a Emater-DF. São capacitações relacionadas à produção de derivados do leite, alimentação animal, utilização e manutenção de máquinas e implementos para confecção de silagem, normas sobre a qualidade do leite e inseminação artificial. Este último é o que costuma gerar mais demanda.
O pesquisador Carlos Frederico Martins pontuou também informações sobre projetos de pesquisas que são conduzidos no CTZL, tanto ligados à transferência de tecnologia, quanto à reprodução. Um desses estudos que quebra alguns paradigmas é o relacionado à integração da restauração ecológica aos sistemas produtivos no Cerrado. As pesquisas demostram que, ao contrário do que se imagina, o gado pode sim pastejar numa área de reserva legal.
“Temos uma unidade de pesquisa de referência no CTZL que nos mostra que o gado mata pouco as plantas, domina a braquiária, permite que as mudas plantadas se desenvolvam e recomponham a mata de galeria e evita o fogo”.
No centro de tecnologia também são conduzidos estudos relacionados à cribiologia de embriões (demanda do setor produtivo e dos laboratórios), avaliação genômica dos embriões, o que possibilitará a predição genômica do embrião antes dele nascer, além da clonagem de bovinos dentre outras técnicas. As tecnologias geradas no CTZL são disseminadas ainda por meio de eventos como dias de campo e feiras agropecuárias. A interação com o setor produtivo também se dá com os leilões tradicionais de difusão de genética do zebu leiteiro.
Novo cenário
De acordo o pesquisador Luiz Adriano Cordeiro, é preciso a partir de agora avançar em alguns outros aspectos devido à diversidade do momento e da própria atividade. “O CTZL foi criado para validar e transferir tecnologias que a pesquisa já detinha em termos de pecuária leiteira para a região do Cerrado. Nesse novo cenário, temos diferentes orientações levando-se em conta o Plano Diretor da Embrapa (PDE) e, também, o macroprocesso de inovação que traz elementos diferentes e mais contemporâneos no processo de inovação em que a Embrapa tem que atuar neste momento”, afirmou.
Segundo ele, a ideia agora é trabalhar com uma estrutura transversal de inovação, com novos temas sendo incorporados ao trabalho de rotina do centro numa ênfase de inovação aberta, que envolve ambiente de negócio, parceiros inovadores, como startups e empresas de tecnologia, e uma série de outros temas que poderão ser agregados à essa nova fase.
O pesquisador pontuou alguns desafios que deverão ser enfrentados daqui para a frente nesse novo momento em que os processos produtivos passam em termos de busca pela eficiência. “Há uma diversidade muito grande de temas que são correlatos e importantes para que a produção leiteira seja eficiente no ambiente tropical. E esse é um grande desafio, pois a produção leiteira talvez seja a maior atividade agropecuária do Brasil. O número de produtores é imenso no universo do agro brasileiro, mas muitos deles, especialmente os de pequenas propriedades, ainda possuem baixos níveis tecnológicos. E eles precisam ser inseridos nesse novo momento”, enfatizou.
De acordo com Luiz Adriano, a ideia é transformar o CTZL num centro de desempenho sustentável de pecuária leiteira de baixa emissão de carbono. “Queremos que o centro seja uma ampla e moderna vitrine tecnológica; um exemplo de fazenda sustentável de produção de leite”, afirmou.
Informações da Embrapa
Emater-DF
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